P.E.T.

 


Pedro poderia ser definido como antagônico. Desde cedo curtia a vida junto à natureza, seja no ar, na montanha ou no mar, também demonstrou um tino comercial muito forte, se especializando na especulação imobiliária. Sendo um esportista nato, com talentos que poderiam fazê-lo um campeão olímpico, proporcionou a ele, já aos 25 anos, viajar o mundo e conhecer as maravilhas do Planeta Terra.

As contradições não param por aí, o fato dele ter explorado todo o mundo nas aventuras esportivas não o convenceu de que a terra é redonda. Ao surfar, ele olhava o horizonte e ficava se perguntando: se o horizonte é tão plano, como a Terra pode ser redonda? Ele achava que fuso horário era apenas uma imposição dos fabricantes de relógio, e ao fazer negócios pelo mundo, importunava seus clientes ligando de madrugada em busca de números melhores.

Ele sabia que o planeta era grande, e achava que ainda poderia descobrir uma terra inexplorada, a qual ele poderia vender os lotes e se tornar o maior corretor de imóveis do mundo!

Num domingo de verão ele resolveu colocar o plano em prática. Pegou seu veleiro e partiu para alto mar. É claro que ele não seguia nenhum plano de navegação, pois não confiava em nenhuma carta cartográfica ou ao menos um mapa-múndi. Achava que bússola era um truque dos marsupiais austríacos, e que os rádios eram monitorados pela lua, que era um satélite marciano espião.

Navegando às cegas rapidamente perdeu o rumo, ficando à mercê das correntes marítimas. Algumas semanas se passaram e ele acordou desnorteado com o barco cheio d’água pois tinha batido em algo que quebrou o casco. Sem recursos para pedir ajuda, ou mesmo tempo de salvar o barco, ele subiu na proa e pulou para o mar, na esperança de não afundar junto com a embarcação.

Ele caiu em cima da Grande Porção de Lixo do Pacífico, uma área de acúmulo de lixo, principalmente plástico, de aproximadamente 1,5 milhão de Km² (área 6 vezes maior que a França), e que cresce a cada ano.

Seu sonho, que se tornou realidade, se transformou em pesadelo. Estava preso naquele continente sem poder registrá-lo no cartório mais próximo. Bastava ser resiliente e aguardar. Enquanto isso, sem água e sem comida, ele se alimentava daquilo que o continente lhe oferecia: animais presos nos plásticos e água da chuva que se acumulava nas garrafas.

O que ele não esperava é que microfibras de plástico se soltavam e eram ingeridas por ele, modificando seu DNA para sempre, adquirindo propriedades que apenas aquele derivado de petróleo possuía: baixo grau de degradação e poderia ser reciclado eternamente. Bastava ele imaginar algo que moléculas de plástico próximas se rearranjavam.

A partir de 2013 iniciativas do mundo inteiro começaram a mapear tal continente, a fim de conter (e até mesmo eliminar) tal ilha. Pedro se prendeu ao casco de uma dessas expedições, e ao voltar para a América, se colocou como o defensor de sua ilha, para que ele possa especular o espaço sozinho, sem concorrência.

Uma última curiosidade, Pedro sempre foi zombado e chamado de P.E.T., que significa: Pedro É Terraplanista.